para que as aves não esqueçam o voo... e as árvores não deixem de anunciar a primavera...

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sábado, 26 de dezembro de 2009

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o vento sacudia, os ramos partidos selvaticamente,

soltava os restos do pranto desesperado da noite.

arrastava destroços de horas de pesadelo e insónia.

mas, tal como às vezes acontece na vida,

entre esqueletos e sobras, o sol anuncia um novo dia

pendurando, na desolação das árvores, pequenas estrelas de luz dourada.
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009


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passou por mim. vestia as sobras de uma capa sem cor. magras as mãos vazias.

olhar ausente. sem brilho.

percorrera todos os lugares. ninguém o reconhecera.todos seguiram empoleirados em passos apressados e indiferentes.

se o olhassem. ririam do seu ar de mendigo ou fugiriam assustados com medo de perderem os pacotes brilhantes que transportavam ou a carteira mais ao menos magra.


o natal estava ali. fechado em caixas. na troca conveniente ou obrigatória de presentes.

no carro ou na jóia sonhada. no peru da ceia.

o natal estava nos braços que desaprenderam de se fechar sobre os outros. no coração convertido em moeda de troca. nos olhos de sorriso impessoal e gélido.

alguns ainda o guardavam na memória. sabiam que devia estender-se por todos os dias do ano numa entrega simples e autêntica de amor.

e até alguns desses também já tinham deixado cair os braços. pesados de desanimo e desencanto.
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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

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fala deserto. quem se alimentou de areia.

quem matou a sede bebendo o suco de cardos espinhosos.

abriu calos e sangue.


conhece a verdade da pele. quem deixou que a carne se incendiasse

na hora a que o sol varre todas as sombras da terra.


diz palavra. quem soletrou o alfabeto do silêncio.



mas só é seda.

quem secou nessa sede

se consumiu em chama. quem calou dentro de si a própria voz.


e. apesar de tudo.

guardou nas mãos o esvoaçar de uma asa

e nos lábios a frescura de uma pétala presa numa gota de orvalho.






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domingo, 22 de novembro de 2009

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pétala a pétala pintei uma flor.

primeiro. a traço fino curvava os dedos e o silêncio.

-leve brisa trovando na linha recta onde o sol se deita sobre a terra.

folha descuidada! dourando o chão. restos de pó e magoa.

com ele contornei o húmido apelo dos teus lábios.

em cor e desejo.desceu embriagado.

no suave volume dos teus seios como incêndio.

tornou-se pressa. urgência. e fome relembrada.

seguiu ousado a passo solto.

e na flor que distraidamente desenhara.

bebi néctar e mosto em taça requintada.


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sábado, 7 de novembro de 2009

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sonâmbulos caminhantes. mãos despidas e rostos de luar.
cultores. do avesso da palavra e do ritmo dos silêncios. profetas brancos de um tempo de brandura.
visionários de tesouros na mudez da sombra ou em bancos de corais.
lençol flutuante onde deslizam nus a equilibrar o sonho. com gestos de seda e perfume no olhar.
dançarinos das estrelas. no canto dos sentidos. a preguear a noite.
malabaristas voadores sem rede nem pára -quedas.
pétalas irisadas que se soltam como dedos da alma.
prece sem resposta que se oferece inteira e sem reserva.



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quarta-feira, 28 de outubro de 2009


o choro da manhã escorre nas janelas sem ventre.

desliza no silêncio das arertas.

recorta-se em relevos de sombra.


o vento tamborila nas telhas em agulhas de gelo.

sem concha nem abrigo o corpo abandona-se à parede de pó e solidão.


na clausura das veias o sangue busca o ritmo de uma canção interior.

a asa procura romper a névoa. riscar o eco do abismo.

traçar no infinito a rosa que segurou no peito.

as pálpebras abrem-se como ranhuras sedentas de luz

fendas por onde segue o sol

e em prece fica a vê-lo dourar o mistério do tempo e dos templos.
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terça-feira, 20 de outubro de 2009

*
o desespero
de um tempo de dor e de saudade.




quando o Amor nos obriga a escolher a morte!



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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

9 meses





tempo de gestação...




colheita

de um tempo.




flores de afecto

______________como sorriso do Sol

________________uma gota de Luz

___________________ou a Esperança (religiosamente guardada) de um Tempo Novo
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sábado, 10 de outubro de 2009


solto-me...

do vazio das noites .onde só restam gestos inúteis.
das palavras que se foram tornando metálicas e vazias.
de afectos que se esvaziaram de conteúdo.

varro trinta anos de estilhaços...
no susto de não me reencontrar inteira.
no medo de não mais me reconhecer.

salto.
no vazio. de mãos nuas.
para me provar que saberei recomeçar.
para descobrir se re.aprendi a voar e
se encontrei o verdadeiro "sentido do voo".




As Minhas Desculpas
a todos que não conseguir visitar. gosto de o fazer com prazer e entrega.
neste momento desfaço-me de restos e embalo algumas sobras... (30 anos é muito tempo...)
estarei por aqui todo o tempo que me for possível.
o meu abraço demorado e sentido a cada um e o meu imenso obrigado.

L.


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terça-feira, 6 de outubro de 2009






esqueço o olhar...



na limitada frieza rectangular.

onde só as palavras silenciadas cabem. sem respirar. a empalidecer a expressão.

fujo para o mundo...

mas a pele arrefeceu o gosto de ser gesto.
o cheiro que diferencia os dias e as pessoas.
a noite desceu sobre as estrelas tremulantes em nuvens álgidas opacas e cinzentas.

colaram-se os lábios que se abriam a sorrisos comovidos

derreteram-se sonhos no desencanto. na linha recta do medo.

a música onde me soltava do chão escapou pela porosidade branca do dia

escalpo de um tempo sáurio de lâminas que castram o salto

e estilhaçam os corações.
_________________________________________
AGRADEÇO
a todos que passaram no meu último post.
a todos que tiveram a gentileza de o comentar
por inabilidade, ao tentar substituir uma das fotos (eu, animal entre animais), acabei apagando tudo.
lamento ter perdido as palavras que me deixaram e que sempre guardo carinhosamente no coração.
PEÇO DESCULPA PELO FACTO.
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terça-feira, 29 de setembro de 2009


naufraga caída de um cometa em chamas
navego no teu olhar de marinheiro.
desventro mares e toco o assombro das sereias.
entranço algas. faço um manto que estendo na areia.
quando o sol desce ao fim da tarde.
solto-me na linha dos teus olhos
nos peixes que desenhas sobre as ondas em mosaicos de escamas prateadas.
em cachos anelados de limo verde onde os meus dedos se perdem
e constroem jardins marinhos e corais voadores.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009


presa no olhar da tarde.

prolongo-a.

gotícula suspensa a reflectir o espanto

ou cântico de velas a acariciar o vento.

fio amarelecido ou teia a envolver memórias.

cor amaciada.

outono a derreter-se em sopro e mel.

licor silvestre. repouso de horas de incerteza.

estremecer de pensamento.

olhar secreto. brando entendimento.

silencioso entrelaçar de braços

e voo de asas a nascer no teu sorriso.
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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

**


desço os dedos no mapa da cidade
veias que o sangue intumesce e salga
os sinos marcam a hora do recolher das aves
da carícia do vento nas folhas que se entregaram ao sorriso do chão.
hora crepuscular. linha entre o dia e a noite.
banco de sobras e verbos não conjugados.

os gatos começam a procurar a face da lua.
os homens despejados da vida procuram abrigo
onde esconder o abandono e o olhar desenganado.

no sótão, onde a luz se derrama nua e vertical
o dia demora-se um pouco mais.
desfaço a rotina que o destingiu, o engajamento da feira de utilidades.
lambo a tinta da china o barco que se solta das grades da memória.
acordo o rio para que volte a cantar os dias e embale a música das noites.
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terça-feira, 15 de setembro de 2009


deixo nos dedos do vento as minhas lágrimas


_________________________________para que a música se solte entre o aroma das flores







abre-se...




a folha.

nua. branca. macia.


convite a desdobrar-se no lençol.





desafia a palavra...


espera-a.


para lhe beber o traço fino e leve.





promontório de braços inquietos


ou cais sereno a desenhar partidas.


verde movimento. ondulatório e vago


que inscreve em mastros signos e arabescos estranhos





pensamento a baloiçar segredos


trança de conchas e búzios


colares de refazer o tempo.



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domingo, 13 de setembro de 2009


*


"CREIO NOS ANJOS QUE ANDAM PELO MUNDO"















(disfarçados de gente normal...)


um anjo


desprendeu-se de uma nuvem.num dia como este.


sinto o seu perfume quando nada vejo.


é o meu abraço quando nada sinto.







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sábado, 5 de setembro de 2009



esboço para uma história de amor...

hoje encontrei-te
estavas escondido na almofada onde sempre durmo
deixei-te lá. num gesto descuidado de descrença.
denunciou-te
o perfume com que envolves os dias
e o sabor que me nasce na boca antes de ser beijo.

alisavas as vestes
compunhas o manto com que me agasalhas as noites.

passeamos de mãos dadas.
vimos
quando a lua se despenteou das nuvens.
ficou nua
emoldurou os dias onde podemos escrever um novo livro branco.




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terça-feira, 1 de setembro de 2009



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tempo cego



com navalhas a cortarem os pulsos e as almas












voo entre nuvens

e semeio flores



para sentir a música dos teus passos



no caminho de regresso





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domingo, 30 de agosto de 2009


entre o céu e o deserto. estreita margem...


caminho.

onde os frutos se suspendem.recorte redondo a desenhar o apetite.

a dilatar as narinas. sorvendo o cheiro

e a seiva de terra.



verão ambíguo.

com uma lua cor de laranja

um sonho pintado de vermelho.

um riso no cantar dos pássaros.



...e os teus passos

a voar num corpo cor de milho...
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domingo, 23 de agosto de 2009



as ruas vestiam o branco do silêncio e da ausência
o inverno despira as árvores, esvaziara os ninhos e adormecera a sede urgente de amor.
o frio pedia o crepitar das chamas na lareira.o aconchego do café a fumegar na chávena
a palavra sossegando a fome de carinho
mas
desafiando e contrariando tudo
a emoção derreteu o gelo
rachou a capa de cristal que paralisava a cor e o perfume
deixando a nu uma pétala de veludo que ninguém percebeu
a frescura dos prados vestiu a cama de cetim
e sob um tecto de missanga que prendia ao peito
os dedos fizeram-se flor.

na rua deserta
os passos continuaram a seguir apressados
os olhos vazios
a vida a arrastar-se numa cega e falsa imitação
e no lento esgotar dos dias
ninguém deu por nada.
ninguém viu aquele aflorar repentino e fugaz de primavera.
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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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"NUM MUNDO QUE SE FAZ DESERTO,




TEMOS SEDE DE ENCONTRAR UM AMIGO"





-Antoine de Saint-Exupéry-










AMIGA

TU,

que soubeste guardar-me

durante 30 anos de silêncio

TU,

que soubeste encontrar um caminho de regresso...

OBRIGADA

por não teres esquecido os momentos de ternura e de partilha





P A R A B É N S ! !

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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quem acordou o silêncio e lhe deu voz?

e mãos

que se fizeram ânfora, seiva e lume.


quem fez do vento dedos.

dos dedos cordas soltas.

riso.rima. melodia.prece.canto.

quem do sargaço fez crescer uma floresta

e abriu o ventre

em rio de águas quentes e vermelhas

e na voragem do leito

fez do lençol amarrotado

a pagina em chamas onde se escreveu poema?
*
*
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sábado, 8 de agosto de 2009

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entre a desarrumação das cinzas a palavra surge

como um rio de águas virgens a aplacar as dores

e a espalhar despenteadas sementes de um girassol caído de um lendário país alado


nem sempre a palavra faz a viagem do papel

às vezes, tropeça, engasga

ou fica no peito como pedra de ângulos afiados que faz sangrar mas não se solta.

é aquele nó que enrola a língua e a alma como peso aflitivamente morto.


para que a palavra seja um respirar incontido

estendo os dedos

e fico a sentir a vibração das aves e do vento
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sábado, 1 de agosto de 2009

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sou grata.
às nascentes que alimentam a vida e o sonho.
sou-o também
aos que sabem matar a sede. sem macular a água ou desviar o seu caminho.

sou grata.
aos que sabem escrever nos muros. sem mancharem a brancura da sua tinta.


mas recuso.
os profanadores que interrompem a música com sons grotescos e gestos desvairados.

abomino.
os que tentam quebrar os dedos dos artífices dos templos e cidades.


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domingo, 26 de julho de 2009

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bebo o silencio num lento degustar.

gole a gole.

prendo-o dentro de mim. na volúpia de um amante esperado.

desço na sua voz até ao centro telúrico

onde nascem as marés como braços

a contornar os corpos.


volto no vértice da asa

na fina textura de um entalhe antigo.


e num canto da lua

fico a dançar

a música que tocas com dedos de renda.
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sábado, 18 de julho de 2009

*


nasce no grito silenciado.



suspende-se na voz


magoada.


é um toque suave de nuvens


ou relampago na madrugada.


solta-se


da respiração contida


do suor que despe os corpos


do abraço que funde as almas.


sabe


a sangue e a sal,


a terra e a água.


queima e sopra leve.


é morte consentida!


rasga


a folha branca


em letra desenhada.


abre na noite


em espiga dourada!
*

segunda-feira, 13 de julho de 2009




o tempo é um lugar comum que passa
que se estende sobre a areia
que raramente se estende sob o murmúrio da pele
a todos os desertos
a nenhuma fonte
ao pico da solidão das palavras sobre o papel.

(Isabel Mendes Ferreira)


Há autores que merecem ser citados pela herança literária que vão deixando. Isabel Mendes Ferreira é escritora, poetiza e pintora, uma mulher de cultura que vive em busca da criação no mundo das artes onde já percorreu um longo percurso.
Foi cronista no "O Jornal", no "Diário de Notícias", no “Diário de Lisboa", no “JL” e nas revistas “Visão”, "Guia", "Activa" e "Tomorrow" e ainda foi Copy Writer da Agência de Publicidade Sistema.
A nível da Pintura, expôs na Galeria Altamira em 1985 e em 1987 no Clube 50/Espaço. Ainda nesta galeria e no mesmo ano participou numa colectiva. Em 1988 esteve presente na "80 Anos de Arte Moderna Portuguesa" na Galeria São Bento e numa individual na Galeria Interni. Entre outras exposições, esteve presente na Galeria Barata em 1989, assim como, na Galeria da Secretaria de Turismo e Cultura do Funchal. Está representada em Colecções Particulares em Espanha, França, Estados Unidos da América e Brasil e Portugal.
Ainda são seus os textos do Livro IMAGENS de Dina Aguiar e um sem número de prefácios em obras de outros autores tanto em poesia como em livros de Arte e catálogos de exposições. Participou em várias colectâneas poéticas algumas lançadas recentemente e outras ainda por lançar.



Podem visitar os seus espaços, Piano e Um Beijo e conhecer a magnificiência da sua escrita. Única.



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sexta-feira, 10 de julho de 2009

no corredor de línguas ansiosas
traço o passo.
o salto livre.
desenho a asa
o desafio.
errante,
escapo ao poiso e ao destino.


escorrego nas nuvens
e a baloiçar ao vento
sou pele de outra pele.
e em abandono demorado
rasgo na madrugada
um novo rio




quarta-feira, 8 de julho de 2009


M I M O S

DISTINÇÃO ATRIBUIDA PELA MINHA AMIGA ___Su - __Xanax -http://susanagar.blogspot.com/


A QUEM AGRADEÇO


este prémio homenageia os melhores blogs e tem a sua simbologia nas cores que utiliza

a cor azul representa - Paz, Profundidade e Imensidão

a cor dourada representa - Sabedoria, Riqueza e Claridade de Ideias

o prémio em si representa - a União entre os bloguistas

as regras:

. colocar o prémio em situação visível ou linká-lo

. anunciar através de um link, o blog que o premiou e premiar até 15 blogs

. avisar cada bloguista sobre a premiação

e porque falamos de - Profundidade e Riqueza Interior

porque sempre estão em causa dois sentimentos - AFECTO E ADMIRAÇÂO

. A arte é o encontro da vida - http://pintapensamento.blogspot.com/

. a tradução da memória - http://alicemacedocampos.blogspot.com/

. Amendoa Amarga - http://amendoa-amarga.blogspot.com/

. Caderno de Campo -http://isabelvictor150.blogspot.com/

. canto.chão - http://cantochão.blogspot.com/

. E se tiver apenas um nome? - http://lilithspace.blogspot.com/

. mad - http://susanafg.blogspot.com/

. NUNO PHOTO'S SPACE - http://nunosousaphoto.blogspot.com/

. O Cheiro da ilha - http://ocheirodailha.blogspot.com/

. Ortografia do olhar - http://ortografiadoolhar.blogspot.com/

. PAÇO DAS ARTES - http://pacodasartes.blogspot.com/

. rio na areia - http://rioareia.blogspot.blogspot.com/

. Roads - http://roads-mie.blogspot.com/

. UM BEIJO_________http://dmeumbeijo.blogspot.com/

. Um chá no deserto - http://um-cha-no-deserto.blogspot.com/

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

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no tempo em que nos conhecíamos

a lua era uma grinalda de prata num relógio sem ponteiros


não precisávamos, então, de mais ninguém

o nosso olhar bastava para encontrarmos os caminhos da noite


hoje, todas as pessoas são presentes


porque só aos meus ouvidos continua a chegar a música do silêncio
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segunda-feira, 29 de junho de 2009

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PORQUE VOAVAS

__________________FIZ-ME PÁSSARO!




CONTIGO CANTO E ME CELEBRO!

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sábado, 27 de junho de 2009


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NO TEMPLO

__________EM SILÊNCIO

______________________DESCE UMA MÚSICA DIVINA






________________________________________P A R A B É N S!

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quinta-feira, 25 de junho de 2009




na bainha de cada ciclo,


secreta e laboriosamente se tece o recomeço.


em cada folha que cai, fermenta a nova primavera.


por cada beijo esgotado,


outras bocas desenham a humidade e o apetite,


o suco e o sabor do novo fruto.


por cada mão que se fecha, outras se fazem caminho.


outros braços esperam na esquina ansiosa do desejo,


no sonho apetecido.


a cada acordar, um novo amanhecer se abre à luz, ao ardor e à chama.
**
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terça-feira, 23 de junho de 2009






a andorinha que não era capaz de voltar ao ninho, fugia entre o emaranhado dos passos

ninguém reparava nela . ninguém via o seu olhar assustado e aflito. nem a sua busca desesperada para descobrir um canto onde se proteger.

falei-lhe com suavidade e peguei-lhe com mil cuidados.
olhou-me confiadamente. as unhas agarraram-me os dedos ansiosas.


atravessei a avenida da liberdade, levei-a a beber num repuxo, refresquei e acariciei-lhe as penas, com a ponta dos dedos.

depois, não sabendo o que fazer, deixei-a num tronco que me pareceu seguro.

afastei-me, com as lágrimas a cair. sentia-me a imagem da impotência. pesava-me a ignorância que temos do que nos rodeia.


todos gostamos quando as andorinhas chegam e nos recordam a primavera. mas poucos, são os que
reparam verdadeiramente nelas.
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quinta-feira, 18 de junho de 2009


*




quando o frio da manhã me arrepiou a pele,

as pálpebras rasgaram-se à verdade do dia!


tinha restos de tinta colados aos dedos

e as palavras tinham escapado

na inércia silenciosa com que adormecera a razão.


fiapos de velas brancas eram, no abandono do chão,

rotas de mares desconhecidos,

ventos em fúria e paraísos por inventar.


-arca secreta de sonhos por viver!

que, antes de ser estilhaço abandonado,

se fez pauta escrita na música do silêncio




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domingo, 14 de junho de 2009

*



as mulheres da minha geração



entendem-se no labirinto das palavras.



aprenderam a falar por metáforas.



ginasticaram a mente para dizer o que lhes estava vedado.



percorreram os corredores húmidos do silencio



engoliram a sede do deserto, debruçadas no sótão das ausências.



algumas perderam-se no barulho das solas cardadas



outras floriram



e são hoje pétalas de areia perfumadas


*

sexta-feira, 12 de junho de 2009


*







não sou marioneta
______________ nem boneco de corda
não sirvo caprichos

______________ posso ser asa, ilusão ou sonho.

mas, num dia ser ombro, palavra, intenção,

______________ e no outro, boneco esquecido no chão,

não quero ser, NÃO.

______________ não sou brinquedo
que sai da gaveta, em horas de tédio

______________ sou grito que escapa, a quem nasce surdo
ou fala outra língua.

por isso, não quero ser voz. nem pele. nem dedos.

_______________ não quero ser mais

nem quero ser nada!









quinta-feira, 4 de junho de 2009

*








dos meus braços...

remos sem sentido!

teço raízes para te ser porto e abrigo de pétalas...

faço do leito onde dormimos

tapete voador de viagens mil.

contigo cavalgo noites de silêncios

enquanto a pele chora em línguas de desejo.

e até ser rio... o suor que molha os dias...

mastigo lentamente o teu sabor de cio.


sem teu sorriso morrerei em cada dia
e até à tua volta,
a vida se suspende tristemente...

*







quinta-feira, 28 de maio de 2009


digo o teu nome baixinho

como se fosse uma prece ou uma oração

arrasto-o. letra a letra. até lhe sentir o gosto nos lábios.

até o colar na minha língua.

solto os dedos

na dança lenta em que percorro e descubro os caminhos do teu corpo.

memorizo-os. bebo-os em pequenos goles de lava e espuma.

e, enquanto

demoras as tuas mãos na minha pele

devoro a fome.calo o grito

que me arde na garganta em sede e chama.


deixa que da febre solta nasçam lírios

vestidos de veludo, mosto e sangue.



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sábado, 23 de maio de 2009



Chove no país das fadas...

e até as árvores se esqueceram de anunciar a primavera!...


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procura de um sentido... .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. "em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos" --A. Saint-Exupéry--