
o choro da manhã escorre nas janelas sem ventre.
desliza no silêncio das arertas.
recorta-se em relevos de sombra.
o vento tamborila nas telhas em agulhas de gelo.
sem concha nem abrigo o corpo abandona-se à parede de pó e solidão.
na clausura das veias o sangue busca o ritmo de uma canção interior.
a asa procura romper a névoa. riscar o eco do abismo.
traçar no infinito a rosa que segurou no peito.
as pálpebras abrem-se como ranhuras sedentas de luz
fendas por onde segue o sol
e em prece fica a vê-lo dourar o mistério do tempo e dos templos.
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