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quando o ultimo viageiro da noite adormeceu, já a madrugada calçava os sapatinhos de cetim, com que esperava os dias.
a ramaria esfregava os olhos e vestia de renda verde, o castanho húmido dos caules.
havia um frémito de penas e folhas, a despertar a natureza que, indolente, ainda se espreguiçava...

o canto dos pássaros, em crescendo, era um apelo urgente de vida...
passavam em nuvem, prendendo o vento nas asas inquietas, a roçar o espanto do espectáculo único de cada dia...
ao vê-los, os barcos de papel, voltaram a fazer das veias o mar de todas as viagens possíveis... e acenderam no olhar o brilho do lume apagado...
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