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passou por mim. vestia as sobras de uma capa sem cor. magras as mãos vazias.
olhar ausente. sem brilho.
percorrera todos os lugares. ninguém o reconhecera.todos seguiram empoleirados em passos apressados e indiferentes.
se o olhassem. ririam do seu ar de mendigo ou fugiriam assustados com medo de perderem os pacotes brilhantes que transportavam ou a carteira mais ao menos magra.
o natal estava ali. fechado em caixas. na troca conveniente ou obrigatória de presentes.
no carro ou na jóia sonhada. no peru da ceia.
o natal estava nos braços que desaprenderam de se fechar sobre os outros. no coração convertido em moeda de troca. nos olhos de sorriso impessoal e gélido.
alguns ainda o guardavam na memória. sabiam que devia estender-se por todos os dias do ano numa entrega simples e autêntica de amor.
e até alguns desses também já tinham deixado cair os braços. pesados de desanimo e desencanto.
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